Protestos pela educação continuam

Por Bruna Miyuki

Fotos Bruno Codogno

Os protestos pela educação seguiram por todo o país. Em Londrina, estudantes, professores, servidores, militantes de diversos coletivos e partidos políticos se reuniram na quinta-feira (30) no calçadão a partir das 14:30h para confeccionar cartazes e marchar às 19h pelo centro da cidade. A manifestação de quinta-feira foi uma continuidade do movimento nacional que ocorreu no dia 15 de maio e se opõe ao desmonte da educação pública brasileira.

Debate em torno do projeto de governo

A discussão não se distanciou de 15 de maio. As pautas principais se opunham aos cortes na educação e à reforma da previdência. Porém, enquanto a atmosfera do dia 15 parecia mais permeada pelo anúncio do corte de 30% do orçamento das universidades e institutos federais, o protesto do dia 30 discutia mais amplamente o projeto de educação do governo Bolsonaro.

As palavras de ordem eram contra a falta de investimentos na educação, os impactos da reforma da previdência e a política anti-intelectualista do governo. Após as manifestações em 222 cidades em todo o Brasil no dia 15 de maio, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) declarou que os estudantes são “idiotas úteis”, afirmando que eles haviam sido manipulados pelos professores e por partidos políticos para defender causas que não lhes diziam respeito. Posteriormente, Bolsonaro recuou em suas declarações, modificando a frase para “inocentes úteis”.  Mas as críticas ao pronunciamento prevaleceram em cartazes e discussões no protesto do dia 30.

A presença de estudantes foi bastante significativa em Londrina. O movimento estudantil foi um dos principais braços de apoio do protesto – tanto do dia 15, quanto do dia 30. Christiana Nunes Maia, presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) afirma que os estudantes são os primeiros a serem afetados por cortes no ensino público. “A gente já sofre com a terceirização dos serviços do Restaurante Universitário (RU) que acarreta em um valor muito alto. A gente tem um dos RUs mais caros no Brasil e isso dificulta a permanência do estudantes mais pobres na universidade. No semestre que vem, o reitor da UEL já anunciou que não temos recursos para coisas básicas, como papel higiênico. Além disso, muitos cursos já estão com falta de professores. Esse cenário só tende a aumentar, é por isso que a gente está na rua contra esses cortes”, ressalta ela.

A precarização do ensino público é encarada por Nunes como um projeto político de privatização. A discussão acerca do tema foi bastante forte no protesto. O corte de verbas da educação no governo Bolsonaro contribui para um projeto de desmonte do ensino público que se fortaleceu no Paraná a partir de 2015. O presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Superior Público Estadual de Londrina (Sindiprol/Aduel), Ronaldo Gaspar, relembra a realidade da Universidade Estadual de Londrina (UEL). “Desde 2015, a educação tem sofrido cortes em todos os níveis – federal, estadual, municipal. Isso tem afetado cotidianamente a realidade das universidades. No caso do Paraná, o governo estadual, tanto no mandato anterior do Beto Richa, quanto do Ratinho, tem implementado uma política alinhada com o governo federal”.

Somente em 2018, o RU da UEL teve de funcionar parcialmente pela falta de contratação de funcionários durante meses. O Museu Histórico de Londrina, órgão suplementar da UEL, também precisou encerrar atividades em alguns acervos pela falta de técnicos especializados. O Cine-Teatro Ouro Verde, também órgão da universidade, adiou sua reinauguração devido à falta de funcionários. Este cenário se estende por toda a universidade, onde a falta de contratação de funcionários sobrecarrega profissionais e compromete o funcionamento das atividades básicas da universidade.

Aliado à possível diminuição do repasse de recursos às universidades, sinalizada pelo governador do estado Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), o corte de verbas federais impacta as instituições estaduais. Muitos estudantes da UEL já lamentam o corte das bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que permitiriam o ingresso em programas de pós-graduação e o desenvolvimento de pesquisas. Na UEL, foram cortadas quase 30 bolsas de pós-graduação. Sobre as instituições federais e o corte de 30%, confira a reportagem Todos unidos pela educação.  

Unidos contra o governo

Os protestos pela educação dos dias 15 e 30 de maio mobilizaram estudantes, professores, servidores, sindicatos e militantes de todo o país. Para o presidente do Sindiprol/Aduel, Ronaldo Gaspar, a mobilização em massa resulta da ausência de debate democrático que o próprio governo federal provocou. “O governo Bolsonaro foi eleito e montou um governo com uma agenda que não apareceu. Como não participou dos debates, não apresentou suas propostas e o resultado disso é que muitos eleitores do Bolsonaro estão vendo que as medidas que ele está tomando não são benefício para eles. E o resultado está aí, a popularidade dele decaindo e cada vez mais gente na rua contra um governo que é impopular e claramente contra o povo”, afirma ele.

As mobilizações contra o desmonte da educação pública devem seguir nacionalmente. A expectativa é de que a greve do dia 14 de junho mobilize ainda mais pessoas. “A gente está muito ansioso, porque têm muitas centrais sindicais unidas. É um momento histórico em que eles se uniram aos movimentos sociais e aos estudantes. Vai ser um ato muito bonito. Pode esperar e vir para rua!”, convoca Christiana Nunes Maia, presidente do DCE da UEL.

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